sexta-feira, 2 de março de 2012

Lições de Guantánamo I




Localizado na Baía de Guantánamo, em Cuba, o presídio mais famoso do mundo está dentro de uma Base Naval dos Estados Unidos e é uma verdadeira fortaleza militar.

A prisão, que já foi tema de filmes, músicas, poemas e muitos artigos, voltou ao debate no Brasil após uma recente visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba, onde fez um discurso que incluía direitos humanos e questionou a existência da prisão. A declaração não causaria nenhuma polêmica, exceto por dois motivos: Cuba é governado por uma ditadura há décadas; e o Brasil não é nenhum exemplo de direitos humanos.

Muitas fotos e vídeos foram vinculados pela mídia nesses dias, mas o que mais me chamou atenção não foi o poderio militar e nem o tratamento terrível dispensados aos internos daquela masmorra moderna. O que mais me fez refletir foi o que considero uma grande diferença entre os presos islâmicos, candidatos a uma longa estadia naquele assombroso lugar ou até mesmo à pena de morte, e muitos cristãos. Foi o fato de estarem privados da liberdade, longe de sua pátria, torturados e durante o banho de sol submetidos, a correntes nas mãos, pés e cintura e vendas nos olhos, ouvidos e boca, e apesar disso, ainda terem disposição para se curvarem e, prostrados, adorarem o seu deus Alá.

Não quero de modo algum com estas palavras fazer apologias à religião islâmica. Muito menos ao fanatismo religioso que subjuga mulheres, declara ódio a alguns países e incentiva e patrocina atentados terroristas. Até mesmo porque o islamismo não defende isto, mas sim algumas seitas de verdadeiros fariseus desta religião. Além disso, admito que muitos dos que estão naquela prisão são réus confessos, embora alguns tenham confessado sob tortura. Quero apenas extrair o exemplo de devoção e fé diante de situações até desumanas quando, ao contrário, alguns cristãos, mesmo crendo num deus que oferece perdão e amor, estão se queixando com ele, ficam insatisfeitos por não receberem dádivas que acham que Deus tem a obrigação de dar ou por não ter resolvido problemas que eles mesmos criaram, muitos chegam a entrar em depressão e alguns até mesmo tiram a própria vida.

Isto me fez lembrar um extraordinário episódio bíblico em que Paulo e Silas encontravam-se presos. Sem dúvida as condições de uma prisão romana há dois mil anos eram bem piores do que Guantánamo, principalmente pelos açoites que receberam e por seus pés estarem presos ao tronco. E detalhe: estavam presos apenas por pregarem o Deus que acreditavam e ao contrário de muitos do presídio em Cuba, não fizeram mal a ninguém, antes, o bem. O mais comum seria eles questionarem a Deus por que estavam presos já que estavam servindo a Ele. Afinal, quem os tinha enviado deveria no mínimo protegê-los. Ou será que Ele não tinha poder para tal? Entretanto, a Bíblia diz que “por volta da meia noite os dois oravam e cantavam louvores a Deus”. De repente, sobreveio um terremoto que destruiu a cadeia e eles foram livres.

Os islâmicos não têm um testemunho desses em seu manual de fé, mas fé e reverência não lhes faltam. Paulo e Silas louvaram a Deus antes de receberem o livramento. Ao contrário deles, muitos que se dizem cristãos sequer agradecem após receberem as bênçãos. É muito comum e fácil se aproximarem de Deus para pedir e para culpá-lo. Mas, se este mundo é considerado uma verdadeira prisão, Deus quer ouvir verdadeiros Paulos e Silas.

Escrito por André Falcão Ferreira 
e publicado no Jornal O Dia em 02/03/2012