quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Paradoxa Alegria




Segundo a ciência, uma substância chamada serotonina transmite informações entre as moléculas do cérebro provocando a sensação de prazer e alegria. Existem fatores que naturalmente estimulam a produção e liberação da serotonina como sexo, lazer e o Sol, proporcionando sensação de bem estar.
Ocorre que as pessoas podem ter sensação de alegria pelos mais variados motivos que, por vezes, são opostos entre si. Como no exemplo prático das disputas onde um lado comemora a vitória, enquanto o lado imediatamente oposto amarga a derrota. Há também o caso em que o lado vitorioso esboça satisfação não apenas pelo seu êxito, mas pela derrota alheia. Este último caso parece não ser moralmente correto.
Sentir prazer no sofrimento alheio é algo cada vez mais comum. Basta ver que, à semelhança do império romano, onde as pessoas tinham bem menos instrução e noções de direitos humanos, assistir gladiadores em arenas ainda é entretenimento. O Coliseu agora vai a domicílio pela televisão. Multiplicaram-se também os programas que expõem crimes e criminosos com viés de humor. Não imagino Jesus com os apóstolos comendo pipoca diante dessas programações televisivas.
E sobre o que é moralmente correto, provavelmente alguém não conseguiria patrocinar uma festa em sua casa regada por um farto banquete, sabendo que concomitantemente a do vizinho da direita está tomada por assaltantes que fazem a família refém e violentam as mulheres, ou, alheio ao fato de que o vizinho da esquerda há dias não tem o sustento da sua prole. Porém, expandindo a latitude e a longitude dessa reflexão, como alguém que contempla todo o planeta, veremos que situações iguais às descritas acima acontecem constantemente. O que muda é apenas a distância de um vizinho para o outro.
Após alguns anos de árduo trabalho e bilhões de reais investidos, o Brasil finalmente poderá ciceronear e celebrar, mais uma vez, a Copa do Mundo. Tem sido questionado, entretanto, o fato de que, pela ausência do investimento do mesmo volume de recursos, milhões de pessoas padecem perante uma má prestação dos serviços públicos de saúde, educação, segurança e assistência social. Também por alguns anos de trabalho e bilhões investidos, finalmente o homem conseguiu enviar uma sonda a Marte. Em todo o mundo foi noticiado e comemorado o grande salto na expansão espacial. Nada contra a expansão espacial, porém aqui na Terra fala-se no fim. Assim, não está claro se o homem está cobiçando Marte porque, por aqui, vislumbra-se o fim, ou se o possível fim da Terra está sendo vislumbrado devido aos densos investimentos em propósitos errados ou questões menos urgentes como a ida a Marte.
Sem dúvida precisamos de momentos de prazer e diversão. E não devemos parar o mundo toda vez que ocorre um sequestro, assassinato ou estupro. Ou devemos? Esta parece ter sido a atitude de Deus diante da queda do homem no Éden quando tratou pessoalmente do caso. Depois disto Ele diz a Caim, que havia cometido o fratricídio: “a voz do sangue do teu irmão clama da terra a mim”. E de fato o sangue inocente clama. Há um verdadeiro gemido nesta terra “como de uma mulher que está para dar à luz” conforme profetizou Jesus Cristo.
O atual rumo trágico deste mundo, que deixaria até Shakespeare de boca aberta, faz com que expressões puras e sinceras de júbilo tenham cada vez menos ocasião e tornem-se até inconvenientes diante de tanto sofrimento. Contudo, persiste a esperança de alcançar-mos, por meio de Cristo, um lugar onde o gozo não será momentâneo ou condicional. A alegria não dependerá de ponto de vista, nem haverá prazer naquilo que é moralmente reprovável. Por ora, a nossa sociedade precisa se desculpar com Caim.

Artigo escrito por André Falcão Ferreira
e Publicado no Jornal O DIA em novembro de 2012


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mesa de bar em Berlim



A biografia do continente europeu é marcada pela desunião. Os pretextos para as disputas no velho continente iam desde poder e domínio de territórios até heranças e desavenças religiosas.
             Os impérios grego e romano foram protagonistas de grandes batalhas, inclusive internas. Na idade média, a França e a Inglaterra, como grandes potências econômicas e militares, assumiram este papel, como na “Guerra dos Cem Anos”. Conflito este que, pelo nome, já demonstra a disposição de digladiarem-se. O contato com os vikings pode ter favorecido o temperamento contendedor. Então, veio a “Guerra dos trinta anos” entre protestantes e católicos; passaram pelas disputas por territórios nas colônias; até chegarem nas duas grandes guerras mundiais, cujo cenário não poderia ser outro, senão a Europa. E claro, com direito a tiranos com propósitos megalomaníacos de domínio mundial. Só mesmo um país daquele continente teria um imenso muro de concreto dividindo-o ao meio como o de Berlim, na Alemanha.
            Então, ao final do século XX, contrariando o que já fora escrito, surge a União Européia. Ninguém poderia imaginar que isto um dia aconteceria. E com direito a moeda única, o euro. Todo o passado de desunião foi suprimido em prol do progresso e do desenvolvimento.
            A recente crise econômica que assola aquele bloco econômico-social não foi suficiente para desfazê-lo, apesar de esta idéia ter sido ventilada. Ao contrário, revelou novamente atitudes impensáveis há algumas décadas. A França e a Alemanha, arqui-inimigas nas guerras mundiais, juntas para promover socorro financeiro a países que, como a Grécia, estão afligidos por altas taxas de endividamento e desemprego. Hitler jamais admitiria tal aliança.
               Na contramão da crise está a Alemanha. Esta não passa por recessão nenhuma, pois manteve a disciplina na economia, ou seja, fez direitinho sua lição de casa. Enquanto a Grécia sofre com o desemprego, os cidadãos alemães compram, investem e até se divertem. Para eles crise é conversa de mesa de bar, assim como a história de desunião europeia. Agora, mais uma vez o passado está sendo deixado de lado, ainda que com resistência, pela sobrevivência do bloco.
             Origem de danos bem maiores à humanidade, a história de separação entre o homem e Deus começou no Éden. A desobediência criou um abismo entre os dois. Dessa forma, foi estabelecido um conflito que ainda persiste. De um lado a vontade divina e, do outro, a humana. Esse conflito, em suma, é a raiz dos males deste mundo.
        Sobre esse abismo de separação, entretanto, foi construída uma ponte. Isto é exatamente o que Jesus Cristo representa: um elo de ligação entre Deus e o homem. Do Senhor partiu a iniciativa da redenção. Agora não seremos mais condenados pelos nossos próprios pecados, porque Cristo já foi condenado por nós. Precisamos apenas “tomar a nossa cruz e segui-lo”.
               Infelizmente ainda há aqueles que resistem a passar por essa ponte.  Os motivos são os mais variados. Alguns sequer reconhecem que precisam dessa reconciliação, não reconhecem a crise nas suas vidas provocada pelo pecado. Porém, um dia terão que admitir. E, assim como vários países europeus, terão que pedir ajuda. Mas, poderá ser muito tarde.
            Por ora, a União Europeia luta para permanecer coesa. E as contendas do velho continente, para quem não viveu, assim como a salvação em Cristo para os incrédulos, são apenas assuntos para uma conversa descontraída. Talvez numa mesa de bar em Berlim. Mas, apesar da incredulidade que existe, Jesus continua reconciliando os homens com Deus. 

Artigo escrito por André Falcão 
e publicado no Jornal O DIA em 05/08/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lições de Guantânamo II



Ainda me lembro de algumas promessas de Barack Obama enquanto candidato a presidente dos Estados Unidos. Até porque a imprensa mundial não nos permite esquecer. Entre elas, o fechamento da famigerada prisão de Guantánamo.
Já ocorreram por todo o mundo várias manifestações contra a manutenção desse presídio. Uma delas constou no discurso da presidente Dilma Rousseff feito durante a visita a Cuba no começo deste ano. É natural a fala da presidente Dilma, já que ela sabe bem o que é ser preso político e Guatánamo é também uma prisão política. A contradição repousa sobre o fato de que o palanque do discurso estava montado num país referência neste tipo de clausura. Difícil de entender também o fato, de às vésperas da montagem de um novo palanque para reeleição daquele que prometeu o fechamento dessa prisão, ela ainda continua funcionando revestida com uma forte proteção do governo estadunidense, recheada de mistérios e contrariando os direitos norte americanos, os internacionais e principalmente os humanos.
E por falar em contradições, as nossas ruas estão repletas de pessoas que nunca estiveram e nunca estarão atrás das grades, mas estão presas. Contra elas não há nenhuma queixa, não têm passagem pela polícia, não respondem a processo judicial e às vezes sequer têm dívidas em atraso. Mas, há algo em suas vidas que lhes restringe a liberdade. Algo que à primeira vista não é notável. Algo que pode até ser considerado abstrato, porém traz consequências concretas e que saltam aos olhos. São os vícios, a ganância, o ódio, o rancor, a impureza sexual, a idolatria, a religiosidade infundada, o egoísmo e toda sorte de comportamentos espúrios.
A multidão dos que têm aparentemente uma vida desejável é enorme. Proclamam com orgulho que são livres, mas de livre e espontânea vontade tornam-se reféns dos próprios pecados. São até mesmo considerados vitoriosos ou bem sucedidos. Entretanto, estão derrotados pelos vícios, desejos que fogem do seu próprio controle. O sorriso que exibem de forma alguma denuncia o sofrimento interior, da mesma forma que Guantánamo não combina com o mar do caribe à sua frente. Cada interno daquele lugar custa R$ 800 mil dólares por ano. Muito além do que milhões de famílias têm acesso durante toda vida. Mas, bem menos do que o que é gasto com deleites desnecessários e acintosos por pessoas que, dessa forma, pagam para entrarem numa prisão.
Essa parecia ser uma especialidade dos israelitas. Constantemente eram levados cativos. O aprisionamento individual e interior começava com o rei e se estendia por toda a nação. Então, os seus muitos pecados afastavam a proteção divina, o que os tornava presas fáceis para os povos vizinhos. Mas, Deus tem uma capacidade bem maior de libertar: começando pelo coração e a mente. Depois, se necessário, abrindo paredes de água e de rocha. A propósito, o Mar Vermelho deve ter sido bem mais fácil de abrir do que os corações de hoje.
Jesus oferece a verdadeira liberdade. Aquela que fez Paulo, juntamente com Silas, orar e cantar hinos a Deus mesmo estando no cárcere com muitos açoites e os pés presos ao tronco. A mesma que Daniel sentia na cova dos leões. Ele quer nos fazer livres. Não das grades, mas mesmo atrás delas.


Escrito por André Falcão Ferreira 
e publicano no Jornal O Dia em 22/05/2012

                       

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Redescobrindo Valores


            Era dezembro de 1995. Eu tinha uns 10 anos de idade. Passamos o ano inteiro pedindo ao nosso pai e sonhando com elas. Vários amigos já tinham. E quando acordamos na manhã de natal lá estavam elas: duas lindas bicicletas paradas no meio da sala. Eram bem maiores do que as que já tínhamos. Não eram as melhores do mercado, mas eram ótimas. Além disso, já não acreditávamos mais em papai Noel e sabíamos que nosso pai tinha se esforçado muito para comprá-las.

            Então logo decidimos: a preta seria do meu irmão mais velho e a branca com detalhes vermelhos seria a minha. Mal podíamos esperar para sair com elas e dar uma volta. Tornaram-se nossas principais companheiras. Passeávamos na rua da frente, na praça do bairro, no clube aos domingos e se viajássemos elas iam junto.  Sempre sobre o olhar atento da nossa mãe que jamais nos deixava sair sozinhos. Todo final de semana um banho com muita água e sabão para tirar a sujeira. Se pudéssemos dormiríamos com elas. Naquela época bicicleta ainda era um dos brinquedos mais queridos de uma criança. O videogame e a internet ainda não tinham invadido os lares. Não havia tantas crianças obesas e muito menos depressivas.

            Mas o tempo foi passando. A nossa idade mudou e com ela os interesses e desejos. O tempo para brincadeira foi diminuindo. Marcas mais modernas apareceram no mercado e a pergunta nas nossas mentes: por que andar de bicicleta se podemos dirigir um carro? Começaram então a enferrujar. As peças danificadas não eram mais repostas. Até que foram encostadas. Aquilo que já fora um sonho caiu no esquecimento. Só voltaram a ser lembradas quando as vendemos para comprar simples pares de chinelos que estavam na moda: algo bem menos importante.

            Situações semelhantes acontecem muitas vezes nas nossas vidas. E pior: no lugar das bicicletas estão momentos, lugares, objetos que deveriam ter valor sentimental e até pessoas como esposas, filhos, pais e amigos. Às vezes conquistamos ou ganhamos algo que sempre sonhamos e/ou lutamos, mas com o tempo o sonho passa a ser uma realidade sem graça. Talvez a casa ficou pequena e confusa, o sorriso da esposa não tem o mesmo brilho, não há mais a expectativa do retorno do companheiro(a) após um dia de trabalho, a saúde e as notas boas dos filhos são comuns ou apenas obrigação, o almoço em família foi esquecido, boas lembranças não tocam mais o coração, aniversários e novos cortes de cabelo ou roupas passam despercebidos. E falando particularmente aos jovens, valoriza-se muito mais sair e virar noites com pseudo-amigos do que passar mais tempo com a família, cativar as verdadeiras amizades e ler um bom livro.

            O mesmo tempo que mês fez abandonar as bicicletas, me ensinou a valorizar o que mais importa. Principalmente as pessoas que mais amo. Pois as que mais amamos, às vezes se tornam as mais desvalorizadas. Procuro oferecer felicidade ao invés de apenas obter. E como bom cristão evangélico, valorizo cada vez mais a Palavra de Deus e a Sua Casa.

            A todo o momento surge algo novo que nos tira atenção do que realmente é importante, do que nunca deveria deixar de ser tratado como novidade É difícil dizer por que o que deveria ser mais valorizado está sendo trocado por coisas efêmeras e sem importância. Talvez isso faça parte da chamada “inversão de valores”. Mas tudo seria melhor se percebêssemos que o simples pão que vai à mesa diariamente é uma dádiva. Não troque que é mais importante na sua vida por um simples par de chinelos da moda.

Escrito por André Falcão Ferreira
Publicado no Jornal O DIA em 19/03/2011

sexta-feira, 2 de março de 2012

Lições de Guantánamo I




Localizado na Baía de Guantánamo, em Cuba, o presídio mais famoso do mundo está dentro de uma Base Naval dos Estados Unidos e é uma verdadeira fortaleza militar.

A prisão, que já foi tema de filmes, músicas, poemas e muitos artigos, voltou ao debate no Brasil após uma recente visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba, onde fez um discurso que incluía direitos humanos e questionou a existência da prisão. A declaração não causaria nenhuma polêmica, exceto por dois motivos: Cuba é governado por uma ditadura há décadas; e o Brasil não é nenhum exemplo de direitos humanos.

Muitas fotos e vídeos foram vinculados pela mídia nesses dias, mas o que mais me chamou atenção não foi o poderio militar e nem o tratamento terrível dispensados aos internos daquela masmorra moderna. O que mais me fez refletir foi o que considero uma grande diferença entre os presos islâmicos, candidatos a uma longa estadia naquele assombroso lugar ou até mesmo à pena de morte, e muitos cristãos. Foi o fato de estarem privados da liberdade, longe de sua pátria, torturados e durante o banho de sol submetidos, a correntes nas mãos, pés e cintura e vendas nos olhos, ouvidos e boca, e apesar disso, ainda terem disposição para se curvarem e, prostrados, adorarem o seu deus Alá.

Não quero de modo algum com estas palavras fazer apologias à religião islâmica. Muito menos ao fanatismo religioso que subjuga mulheres, declara ódio a alguns países e incentiva e patrocina atentados terroristas. Até mesmo porque o islamismo não defende isto, mas sim algumas seitas de verdadeiros fariseus desta religião. Além disso, admito que muitos dos que estão naquela prisão são réus confessos, embora alguns tenham confessado sob tortura. Quero apenas extrair o exemplo de devoção e fé diante de situações até desumanas quando, ao contrário, alguns cristãos, mesmo crendo num deus que oferece perdão e amor, estão se queixando com ele, ficam insatisfeitos por não receberem dádivas que acham que Deus tem a obrigação de dar ou por não ter resolvido problemas que eles mesmos criaram, muitos chegam a entrar em depressão e alguns até mesmo tiram a própria vida.

Isto me fez lembrar um extraordinário episódio bíblico em que Paulo e Silas encontravam-se presos. Sem dúvida as condições de uma prisão romana há dois mil anos eram bem piores do que Guantánamo, principalmente pelos açoites que receberam e por seus pés estarem presos ao tronco. E detalhe: estavam presos apenas por pregarem o Deus que acreditavam e ao contrário de muitos do presídio em Cuba, não fizeram mal a ninguém, antes, o bem. O mais comum seria eles questionarem a Deus por que estavam presos já que estavam servindo a Ele. Afinal, quem os tinha enviado deveria no mínimo protegê-los. Ou será que Ele não tinha poder para tal? Entretanto, a Bíblia diz que “por volta da meia noite os dois oravam e cantavam louvores a Deus”. De repente, sobreveio um terremoto que destruiu a cadeia e eles foram livres.

Os islâmicos não têm um testemunho desses em seu manual de fé, mas fé e reverência não lhes faltam. Paulo e Silas louvaram a Deus antes de receberem o livramento. Ao contrário deles, muitos que se dizem cristãos sequer agradecem após receberem as bênçãos. É muito comum e fácil se aproximarem de Deus para pedir e para culpá-lo. Mas, se este mundo é considerado uma verdadeira prisão, Deus quer ouvir verdadeiros Paulos e Silas.

Escrito por André Falcão Ferreira 
e publicado no Jornal O Dia em 02/03/2012 





terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ex tunc, ex nunc


Um dos ramos mais fascinantes do conhecimento é a Ciência Jurídica. Muito prestigiado no nosso país e com enorme influência na sociedade, o Direito permeia o nosso cotidiano assegurando garantias que abrangem desde o nascituro até os que jazem.

            Um dos pontos mais interessantes dessa disciplina é o constante uso de termos em latim. O próprio nome Direito vem do latim directus que significa “aquele que segue regras pré-determinadas ou preceitos”. Mas, duas expressões que despertam a curiosidade dos leigos e provocam dúvidas quanto aos seus significados são “ex tunc” e “ex nunc”.

            Ex tunc em latim significa “desde então”. Quer dizer que determinada decisão ou instrumento normativo, sobre fato no passado, possui efeitos “desde a data do fato no passado”, ou seja, retroage. É o que acontece no caso da anulação de atos administrativos. Por exemplo: se um servidor deixa de receber uma parcela da remuneração por um ato administrativo e em determinado momento constata-se que este ato é ilegal, o efeito será ex tunc, ou seja, retroage desde a data do referido ato e o servidor passa a ter direito a tudo o que não recebeu. Já ex nunc significa a “partir de agora”. Quer dizer que os efeitos da decisão só valem a partir da data da própria decisão, ou seja, não retroage. É caso de revogação de um ato administrativo como uma autorização de uso de bem público, por exemplo. Os efeitos passam a ser considerados a partir da data da revogação.

            Desde a entrada do pecado na humanidade por meio da queda de Adão no Éden, todos nós somos pecadores. E Paulo reforça isso em Romanos 3.23: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. E se para o pecado existe uma condenação: então todos são réus e estão sujeitos à condenação. Mas, a boa notícia é que o “sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado” (1João 1:7). Em 1 Pedro 4:8 lemos que o “amor cobre multidão de pecados” e no Salmo 103:2 que “Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades”.  Portanto, o perdão que Jesus Cristo tem efeito ex tunc. Isso mesmo: retroage em nosso favor até a data dos pecados mais antigos e nos livra da culpa. Em algumas oportunidades após operar a cura Jesus disse: “os teus pecados te são perdoados”. Sem dúvida estava se referindo aos pecados já cometidos até aquele momento.

            Por outro lado, após perdoar o Mestre afirmava: “vai e não peques mais”. Ele propõe uma nova vida. Essa sim com efeito ex nunc (a partir de agora), ou seja, a partir da nossa conversão, do nosso arrependimento. E Ele mesmo reforça: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10:10). Paulo cunhou de forma empolgante: “esquecendo-me das coisas que atrás ficam ... prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Por fim, João assevera em sua primeira carta: “estas coisas vos escrevo, para que não pequeis...” mostrando-nos o novo modelo de vida, mas completa maravilhosamente: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. Isso mostra a disposição constante de Deus em retroagir ao nosso favor para nos perdoar. Contudo, mediante o arrependimento.

Escrito por André Falcão Ferreira e

Publicado no Jornal O DIA em 27/01/2012