sábado, 19 de julho de 2014

Filosofia dos pés



Localizados nas extremidades inferiores do corpo, os pés são membros fundamentais para a nossa estabilidade e locomoção. Porém, não obstante as funções biomecânicas, provavelmente é o fato de serem a parte da nossa estrutura física criada para manter contato direto com o solo que lhes confere sentido simbólico e filosófico. 
 O dia 29 de julho de 1969 entrou para história como o dia de uma proeza incomensurável. O homem poderia ter orbitado ou até aterrissado na lua, mas a missão Apollo 11 jamais teria a mesma glória se os astronautas não cravassem algumas pegadas na superfície lunar. Naquele momento, Neil Armstrong cunhou a frase “É um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”, e comprovou que os pés podem expressar conquista.
 Sentido oposto teve a vinda da família real portuguesa ao Brasil em março de 1808. Ante a iminente invasão pelos franceses por descumprir o Bloqueio Continental imposto por Napoleão Bonaparte, a corte portuguesa foi compelida a evadir-se de sua nação. Quase três meses e meio após partir de Portugal, o toque dos pés do Príncipe Regente, Dom João, em solo tupiniquim, embora por aqui tenha sido festejado, na verdade representou humilhação.
O ministério de João Batista foi profetizado em Ml 3.1, e reconhecido pelo próprio Cristo em Mt. 11.10. Jesus ainda declara que “dentre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista”. Porém, mesmo com toda essa honra, o humilde profeta declara que não é digno de carregar as sandálias de Cristo. Com tal declaração ele se coloca como menos digno do que os pés do bondoso mestre e, dessa forma, ao tempo em que exalta o nome de Jesus, nos dá primorosa lição de humildade.
Lição de humildade ainda maior nos deu o próprio Jesus quando tomou água numa bacia, cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos. Este simbólico fato nos admoesta, ainda, sobre a santificação. Deus não está preocupado apenas com 90% da nossa vida, mas quer o nosso ser purificado até da sujeira que nos pareça menos relevante, pois como diz Hb 12.14, sem santificação ninguém verá o Senhor.
Em que pese o que já foi mencionado, seguramente a situação que nos legou maior ensinamento sobre o tema foi protagonizada por uma mulher que era conhecida simplesmente por “pecadora”. Jesus foi convidado a jantar na casa de Simão, o fariseu, mas durante a ceia uma mulher se aproximou de Cristo e, chorando, começou a molhar-lhe os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume que trouxe consigo num vaso de alabastro.
Ao presenciar a cena, o fariseu disse a si mesmo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: pecadora”. Então, o piedoso mestre redarguiu a Simão, falando sobre perdão e comparando a atitude deste com a daquela mulher.
Conforme os costumes da época, o bom anfitrião recebia seu convidado oferecendo a este água para lavar os pés, o saudando com um beijo e o ungindo com óleo. Simão, entretanto, não fez nada disto. Naquela noite, foi a pecadora quem fez o papel de anfitriã. A atitude dela perante os pés do Nazareno foi uma prova incontestável de que ela o estava recebendo, não apenas na casa que não lhe pertencia, mas como Senhor e Salvador de sua vida. 
Diante do arrependimento daquela pecadora (humilde de espírito), Jesus lhe disse: “Seus pecados estão perdoados”. Entretanto, o mesmo não foi dito a Simão. A mulher teve a alcunha de pecadora mudada para salva. E nós aprendemos que precisamos ir com arrependimento aos pés de Cristo para recebê-lo como nosso Salvador e obter o perdão pelos nossos pecados.

            Artigo escrito por André Falcão Ferreira,
Publicado no Jornal O POVO de Fortaleza-CE, em 13/07/2014,
e Publicado no Jornal O DIA de Teresina-PI, em 17/07/2014.



sábado, 29 de março de 2014

Todos querem um Rei



         O anarquismo nem de longe é o sistema político mais almejado. Pelo contrário, a história comprova que ao longo do tempo as sociedades depositaram suas esperanças em um governante. É como se a humanidade tivesse uma expectativa, um anseio íntimo por alguém que lidere com justiça, sabedoria e amor. Alguém que tome o tão pesado fardo da responsabilidade sobre todos.
            O povo judeu viveu por muito tempo no regime patriarcal, depois sob a orientação dos juízes. Os patriarcas e os juízes eram lideranças e tinham certa autoridade, mas estavam submissos às leis divinas. Até que o povo decidiu exigir que um rei fosse constituído sobre eles (1. Sm. 8). Havia um desgosto com o comportamento dos filhos de Samuel, último juiz de Israel, e talvez o fato de os povos ao redor já viverem sob o regime monárquico os tenha atraído. Porém, Deus lhes advertiu acerca das muitas prerrogativas de um soberano. Ele poderia, dentre outras coisas, cobrar tributos e tomar servo para si. Mas, Israel, irredutível, insistiu por um rei.
            Com o passar dos séculos, a autoridade dos monarcas de várias sociedades foi sendo questionada, inclusive com insurreições grotescas. Até que no final século XVIII apareceram as revoluções com forte fundo intelectual, como as Revoluções Americana e Francesa. Começou a tomar vulto a ideia de democracia, um tipo de governo onde, em tese, prevalece a vontade do povo e que, até então, parecia apenas um mito romano. Mas, não sem antes lançarem mão de armas e, no caso da França, de um dos instrumentos mais bizarros já inventados: a guilhotina. Foi por esta que padeceu o rei absolutista Luís XVI.
            A maioria das revoluções, entretanto, mesmo contando com o apelo popular, deu lugar a novos tiranos que, apesar de possuírem menos poder, não deixaram de cometer maiores atrocidades, como no caso da França que ainda teve Napoleão, Luís XVIII e outros.
            Outrossim, não foi sem aprovação popular que as ditaduras se instalaram ao redor do mundo, principalmente nas Américas Central e do Sul, África e Ásia. Mas, a de consequências mais catastróficas, sem dúvida, foi a instalada na Europa por Hitler.
            Hoje temos democracias na maior parte do mundo, e os monarcas, não obstante vivam em grande opulência, têm apenas caráter representativo e ornamental. As democracias em vigor possuem vantagens inegáveis. Por outro lado, está patente aos olhos do cidadão mais displicente, que os governantes democráticos conseguem impor suas vontades, apesar das várias limitações impostas pelas leis. E para isto, não raro usam manobras escusas. É por isso que temos, mesmo nas maiores potências, terríveis mazelas como injustiças, desigualdades sociais, crises econômicas e até pessoas passando fome.
            Diante do exposto, não é difícil perceber que o problema não está no modelo de governo, mas em como e por quem ele é exercido. Não está no sistema monárquico em si, mas nos reis. Quando Deus advertiu os israelitas sobre os infortúnios que eles passariam sob a soberania de um rei, ele o fez não porque esse tipo de poder seja ruim em si, mas porque o homem, pecador e falível, não reúne condições para exercê-lo.
            O homem só pode exercer um governo, pelo menos razoável, quando conta com o auxílio de Deus. Não é à toa que os Estados Unidos tornaram-se a maior potência econômica, social e militar. Tal ascensão não se deu por causa das ideias de filósofos iluministas, mas como o escritor Laurentino Gomes ressalta no seu livro “1822”, ocorreu devido à instalação da cultura Protestante que, embasada nos princípios emanados da Bíblia, priorizou o ensino e o desenvolvimento. Embora hoje vejamos naquela nação um afastamento de tais princípios, principalmente por parte das autoridades, razão pela qual estão enfrentando grandes problemas.
            Não tenho dúvida de que, com exceção de alguns defensores radicais de algumas correntes de pensamento, as pessoas não estão preocupadas com o tipo de governo, mas por quem, e principalmente como esse governo é exercido. E quando o homem idealiza uma grande liderança, na verdade ele está tentando estabelecer novamente a regência de Deus, à qual ele abriu mão por causa do pecado.
            A expectativa de ver um líder justo e amoroso será suprida na pessoa de Cristo que derrotará todo o mal e regerá as nações (Ap. 19.15). No seu governo Ele “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor” (Ap. 21.4). Jesus é o Rei perfeito! Sua monarquia é superior a qualquer tipo de governo que o homem possa implantar. E o melhor: governaremos junto com Ele, pois somos coerdeiros e filhos (Ap. 2.26-27; Rm 8.17; Gl. 4.5-6). Isto prova ainda mais que Jesus não é um tirano, mas além de Rei é Pai.
            O reinado de Cristo já existe parcialmente na Terra por meio da sua Igreja. O poder de Cristo foi conquistado não à custa da vida alheia, mas pela sua própria vida entregue espontaneamente na cruz. Dessa forma, não precisamos ficar à deriva esperando por um rei. Se nos arrependermos dos nossos pecados e recebermos pela fé a salvação em Cristo, já poderemos começar a fazer parte do seu reinado aqui na Terra por meio da sua Igreja, para depois participarmos do seu reinado eterno em paz, justiça e amor.

Artigo escrito por André Falcão Ferreira,
Publicado no Jornal O DIA de Teresina-PI, em 25/02/2014
e Publicado no Jornal O POVO de Fortaleza-CE, em 30/03/2014