segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lições de Guantânamo II



Ainda me lembro de algumas promessas de Barack Obama enquanto candidato a presidente dos Estados Unidos. Até porque a imprensa mundial não nos permite esquecer. Entre elas, o fechamento da famigerada prisão de Guantánamo.
Já ocorreram por todo o mundo várias manifestações contra a manutenção desse presídio. Uma delas constou no discurso da presidente Dilma Rousseff feito durante a visita a Cuba no começo deste ano. É natural a fala da presidente Dilma, já que ela sabe bem o que é ser preso político e Guatánamo é também uma prisão política. A contradição repousa sobre o fato de que o palanque do discurso estava montado num país referência neste tipo de clausura. Difícil de entender também o fato, de às vésperas da montagem de um novo palanque para reeleição daquele que prometeu o fechamento dessa prisão, ela ainda continua funcionando revestida com uma forte proteção do governo estadunidense, recheada de mistérios e contrariando os direitos norte americanos, os internacionais e principalmente os humanos.
E por falar em contradições, as nossas ruas estão repletas de pessoas que nunca estiveram e nunca estarão atrás das grades, mas estão presas. Contra elas não há nenhuma queixa, não têm passagem pela polícia, não respondem a processo judicial e às vezes sequer têm dívidas em atraso. Mas, há algo em suas vidas que lhes restringe a liberdade. Algo que à primeira vista não é notável. Algo que pode até ser considerado abstrato, porém traz consequências concretas e que saltam aos olhos. São os vícios, a ganância, o ódio, o rancor, a impureza sexual, a idolatria, a religiosidade infundada, o egoísmo e toda sorte de comportamentos espúrios.
A multidão dos que têm aparentemente uma vida desejável é enorme. Proclamam com orgulho que são livres, mas de livre e espontânea vontade tornam-se reféns dos próprios pecados. São até mesmo considerados vitoriosos ou bem sucedidos. Entretanto, estão derrotados pelos vícios, desejos que fogem do seu próprio controle. O sorriso que exibem de forma alguma denuncia o sofrimento interior, da mesma forma que Guantánamo não combina com o mar do caribe à sua frente. Cada interno daquele lugar custa R$ 800 mil dólares por ano. Muito além do que milhões de famílias têm acesso durante toda vida. Mas, bem menos do que o que é gasto com deleites desnecessários e acintosos por pessoas que, dessa forma, pagam para entrarem numa prisão.
Essa parecia ser uma especialidade dos israelitas. Constantemente eram levados cativos. O aprisionamento individual e interior começava com o rei e se estendia por toda a nação. Então, os seus muitos pecados afastavam a proteção divina, o que os tornava presas fáceis para os povos vizinhos. Mas, Deus tem uma capacidade bem maior de libertar: começando pelo coração e a mente. Depois, se necessário, abrindo paredes de água e de rocha. A propósito, o Mar Vermelho deve ter sido bem mais fácil de abrir do que os corações de hoje.
Jesus oferece a verdadeira liberdade. Aquela que fez Paulo, juntamente com Silas, orar e cantar hinos a Deus mesmo estando no cárcere com muitos açoites e os pés presos ao tronco. A mesma que Daniel sentia na cova dos leões. Ele quer nos fazer livres. Não das grades, mas mesmo atrás delas.


Escrito por André Falcão Ferreira 
e publicano no Jornal O Dia em 22/05/2012