segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Renúncia do Papa e a flexibilização de valores da Igreja Católica





                O recente anúncio da renúncia do Papa Bento XVI ao supremo cargo da organização eclesiástica mais poderosa do mundo provocou elogios, manifestações desrespeitosas por parte de alguns movimentos e muitas especulações. Porém, infelizmente o fato supramencionado traz à baila os famigerados apelos pela flexibilização dos valores e princípios daquela instituição.
                Confesso que, como evangélico, tenho divergências teológicas profundas com a Igreja Católica, entretanto, como cristão, não posso deixar de concordar com os valores defendidos por ela, pois estes priorizam a vida, a família, o respeito, a decência e a moral.
                Ocorre que algumas pessoas que se consideram cristãs defendem que a Igreja Católica deve rever suas opiniões sobre aborto, uso de preservativo, casamento homossexual, pesquisas com células-tronco embrionárias, dentre outras questões. Ora, se a Igreja ceder a estes apelos, estará incorrendo num grave erro e numa terrível contradição com os princípios fundamentais que defende. É racionalmente impossível alguém defender a vida e o aborto ao mesmo tempo, principalmente se o direito à vida está sendo suprimido em nome de um suposto bem estar da mãe. O mesmo se aplica à utilização de vidas em estágio embrionário como se fossem mercadorias descartáveis. As células-tronco podem ser extraídas de outras formas. Em relação ao uso de preservativo, a Igreja condena a promiscuidade sexual. O preservativo não é um remédio ou cura: é uma forma mais segura de você cometer um pecado, ou seja, algo imoral segundo a Bíblia. Apoiar o uso dessa suposta precaução seria o mesmo que pedir que os assaltantes usassem coletes a prova de balas para realizarem o assalto de forma mais segura.  
                O casamento é uma instituição de origem religiosa que só depois foi regulamentada pelo direito. Ele foi criado entre homem e mulher na perspectiva da perpetuação da espécie. Se querem regulamentar a união de duas figuram que não sejam homem e mulher, seja dois homens, seja um homem e um animal, seja um homem e uma árvore, que criem outro nome, mas não casamento. A relação sexual é fundamental para o casamento, mas não pode ser a prioridade. Alguns até alegam que sentem um amor incontrolável. Entretanto, a Bíblia diz algo lógico e evidente: “amai aos vossos inimigos”, ou seja, o amor é algo volitivo, afinal de contas quem amaria seus inimigos por acaso? É claro que é algo que se decide. Amor “sem explicação” é meramente poético. Além disso, ainda que alguém discorde de tudo isto, a Igreja não pode rever seu posicionamento sobre tal tema, uma vez que a Bíblia condena a prática homossexual.
                O fato de a Igreja ter feito coisas erradas, como perseguido e matado na Inquisição ou até mesmo de alguns membros terem se envolvido em pedofilia não significa que agora ela deva mudar seus princípios. Um erro não pode justificar outro. E o principal, tais erros, como ela mesma reconhece, contrariam seus próprios princípios. Da mesma forma que, se alguns membros do STF forem pegos em delito no exercício de suas funções ou fora delas, não significa que a justiça deva ser mudada, mas sim os juízes. A imoralidade e perversão deste mundo não decorrem do Cristianismo, mas do fato de que muitos não seguem o Cristianismo que às vezes até pregam.
                A grande questão é que uma mudança de postura da Igreja Católica em relação aos aspectos acima comentados não viria de simples alterações nos costumes, símbolos, tradições ou mesmo do número de páginas da Bíblia, mas seria necessária, para tal, uma verdadeira mudança nos princípios e valores, o que seria algo mais profundo, contraditório e prejudicial. Creio que o caminho da Igreja Católica possui equívocos contundentes no aspecto teológico, porém me associo aos valores morais defendidos por ela.
Alguns setores da sociedade parecem querer agir guiados por instintos e procedem retrogradamente como o Império Romano, que sucumbiu por priorizar os desejos carnais, ou como atualmente a Holanda, que sucumbe ao liberalismo exagerado e está com os dias contados para a extinção dos seus descendentes, uma vez que a taxa de reposição é inferior à necessária.
Se o mundo comungasse dos valores defendidos pela Igreja, não haveria proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, violência contra mulheres e homossexuais, não haveria drogas, roubo, corrupção, prostituição, assassinatos, fome e várias outras mazelas. E sinceramente, nesse contexto de perversão e imoralidade, o mundo é quem precisa se adequar à Igreja e não a Igreja ao mundo.

Artigo escrito por André Falcão Ferreira
e publicado no Jornal O DIA em 17/02/2013

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